A Quercus suspendeu a classificação ‘Qualidade de Ouro’ atribuída à Praia Dona Ana, em Lagos. A direção da organização não-governamental do ambiente considera que as “recentes intervenções realizadas colocam em causa o equilíbrio natural e paisagístico“. A associação ambientalista algarvia Almargem saudou a decisão e vai continuar a luta nos tribunais europeus.
A Praia Dona Ana já foi considerada uma das mais bonitas do Mundo. Entre abril e junho deste ano foi sujeita a uma intervenção de forte impacto ambiental prevista desde 1999: recarga artificial de areia numa extensão de 40 metros, construção de um esporão para retenção de sedimentos e consolidação das arribas. A intervenção “coloca em causa a conservação e a protecção de ecossistemas marinhos de elevada biodiversidade, nomeadamente a destruição de dois roteiros subaquáticos identificados pela Universidade do Algarve“, sublinha a Quercus.
A Praia Dona Ana ficou totalmente ‘desfigurada’, mas tem agora areal para receber mais turistas. A intervenção motivou forte contestação por parte da comunidade local, principalmente dos surfistas da cidade, não porque fiquem sem ondas na Dona Ana, que já não as tinha, mas porque estão preocupados com o património natural marinho no concelho. A comunidade realizou duas manifestações públicas junto à praia, em abril.
As autoridades governamentais da tutela alegam que a intervenção foi feita por razões de segurança. Muitas vozes populares contrapõem que a razão principal são os planos de construção de pelo menos mais um hotel perto da praia e a necessidade de criar mais espaço balnear para receber turistas.
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Comunidade local realizou duas manifestações quando as obras começaram (®PauloMarcelino/Arquivo)
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“A causa real é a construção em cima da arriba. Em vez de avançar a praia, deviam recuar o hotel”, diz o conhecido surfista Alex Botelho. “A segurança dos utentes não passa pela destruição da beleza paisagística das nossas praias, mas por campanhas de sensibilização e por limitar o número de utentes por praia, medida fundamental em praias de arribas instáveis, como é o caso da Praia Dona Ana”, argumenta a Quercus. Para a associação, a solução para as arribas passa por proibir mais construções e retirar habitações de zonas assinaladas com elevado perigo de derrocada.
A classificação ‘Qualidade de Ouro’ é decidida pela Quercus segundo o critério de análises à qualidade agua com resultados ‘excelentes’ nos cinco anos anteriores à atribuição do galardão. A decisão de retirar a classificação à Praia Dona Ana não resultou de análises à qualidade de água. Foi uma decisão excepcional. A associação esclarece que “não pode deixar de tomar em conta acontecimentos como o da Praia Dona Ana, que colocam em causa o equilíbrio ambiental e paisagístico, e informa que outros casos excepcionais como este serão devidamente analisados, no sentido de se ponderar semelhantes suspensões do galardão atribuído”.
A associação ambientalista algarvia Almargem vai continuar a luta apresentando uma queixa contra o Estado Português junto do Tribunal Europeu por considerar ter sido cometido um crime ambiental. A Almargem apelou ainda à ABAE para que retire o galardão Bandeira Azul atribuído à Praia Dona Ana.
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