“A alternativa é não mexer na praia”. Esta é a opinião dos surfistas locais que promoveram uma acção de protesto junto da Praia D. Ana, em Lagos, esta quinta-feira, 30 de Abril. O protesto foi organizado contra as obras de enchimento artificial do areal e construção de um dique de contenção naquela praia, recentemente considerada por revistas internacionais como a mais bonita do mundo. Está interdita até 15 de Junho e desfigurada para sempre.
As obras começaram no passado dia 13. Representam um investimento de 1,9 milhões de euros (1,6 milhões financiados pela comunidade europeia) e vão avançar o areal em cerca de 40 metros. A obra é justificada pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA) como necessária para “proteger as arribas da erosão criada pela acção das marés”. A Câmara Municipal de Lagos alega que a praia aumentada vai criar espaço para mais turistas e para implementar uma zona de segurança junto às arribas.

Obras vão interditar a praia até 15 de Junho e desfigurá-la para sempre (®paulomarcelino)
A associação ambientalista algarvia Almargem considera que as obras “vão destruir a praia mais bonita do mundo”. A Almargem convocou uma primeira manifestação, dia 18, que teve pouca adesão. A comunidade surfista de Lagos reforçou a contestação com um segundo protesto, realizado esta tarde. Os surfistas estão a defender a praia mas não por causa das ondas, ou do efeito que as obras possam ter em locais próximos com ondas. Os surfistas estão a usar o seu direito à indignação, como cidadãos e utentes balneares daquela praia.
“Viemos protestar hoje com o intuito da suspensão imediata das obras”, referem os organizadores, no comunicado distribuído no local. Alegam que “o projecto está oculto”, que “não há nenhum estudo ambiental feito perante as consequências desta obra” e que “a melhor forma de proteger as arribas é não construir sobre elas”.

Protesto desta quinta-feira foi convocado pela comunidade surfista local (®paulomarcelino)
“Não se deve mexer”, disse o surfista profissional Alex Botelho, ao Swell-Algarve. Tendo sido um dos dinamizadores do protesto desta quinta-feira, Alex Botelho tem uma opinião forte sobre o assunto: “As arribas são instáveis e há erosão, mas isso é a Natureza. A causa real é a construção em cima das arribas. Em vez de avançar a praia, deviam recuar o hotel”, diz o surfista.
“Se isto é a praia mais bonita do mundo, porquê estragar? Porquê inventar?”, questiona o surfista Tomás Alcobia, que também compareceu na manifestação. “É uma parvoíce. O que está mal são as porcarias de betão que metem em cima da praia”, sublinha o surfista Miguel Mouzinho. E conclui: “A areia vai ser levada pelo mar…”

Caras conhecidas da comunidade surfista local: Miguel Mouzinho, André Mouzinho, Alex Botelho, Tomás Alcobia e João Silva na ‘manif’ (®paulomarcelino)
“Isto é um crime contra o património natural da zona, que é muito delicado”, disse Maria Trigoso, ao Swell-Algarve. Maria Trigoso tem 68 anos e nasceu numa casa junto à Praia D. Ana. Contesta a pressão urbanística já existente sobre as arribas “e mais os edifícios que ainda vão ser construídos na zona”. E defende também que a “alternativa é não mexer”, indicando que há outros problemas ali à espera de solução há muitos anos, como o esgoto fluvial a céu aberto e a fragilidade da estação elevatória de águas na praceia junto à praia. “Isto é só para conseguir por mais pessoas na praia”, conclui Maria Trigoso.

Mensagens deixadas junto à praia pelos organizadores do protesto (®paulomarcelino)
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