Hoje voltou a não haver vento com força suficiente para lançar as velas ao mar no Campeonato do Mundo Absoluto de Formula Windsurfing 2016. A frota de 27 velejadores cumpriu esta sexta-feira o segundo dia sem ação na Baía da cidade da Praia da Vitória, Ilha Terceira, Açores. É o momento para colocar a questão que importa: porque estão apenas 19 competidores estrangeiros neste campeonato do mundo?
A resposta está relacionada com o fato de este ser o terceiro ano consecutivo em que o mundial absoluto FW se realiza na Praia da Vitória, defende Vasco Chaveca, presidente da Associação Portugal Formula Windsurfing (APFW). “Tivemos um mundial em Portugal, em 2008, em Alvor, com 87 competidores. Pela primeira vez na História da Formula, desde 1999, o mundial realiza-se três anos consecutivos no mesmo local e isso é um tiro no pé”, disse Vasco Chaveca, ao Swell-Algarve.
A Classe Formula Windsurfing tem diminuído a nível mundial, sobretudo, “por causa das guerras entre a PWA e a associação amadora”, admite o presidente da APFW, referindo-se à entidade que gere o circuito profissional de Slalom (PWA) e à associação que tutela a Classe Formula. Mas também é verdade que a Classe tem crescido em Portugal, Estados Unidos e Austrália e que o último Mundial de Masters e Juventude, realizado na Grécia, no verão, teve seis dezenas de participantes.
No Mundial Absoluto nos Açores – prova única que dá o título de campeão do mundo FW ao vencedor – estão 27 competidores, oito dos quais portugueses, seis açorianos. Os únicos portugueses continentais em prova são os algarvios Miguel Martinho e Margarida Gil Morais, do Clube Naval de Portimão.
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Vasco Chaveca elogia as condições oferecidas pela organização, mas critica a repetição da prova no mesmo local (®EricBellande/2016fwww)
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“É o campeonato do mundo menos participado de todos os tempos”, admite Vasco Chaveca, sublinhando que “dos vinte melhores a nível mundial só estão presentes nove” nos Açores. A repetição do local parece ser o principal motivo para a diminuição da frota. Foram mais de 40 em 2014; mais de 30 em 2015 e 27 este ano.
“Nós associação portuguesa estivemos contra o acordo há três anos, mas como havia outras propostas entre a associação internacional e os organizadores locais tudo passou por trás das nossas costas”, refere Vasco Chaveca. O presidente da APFW defende que o Mundial FW deve ser realizado em locais diferentes cada ano e sublinha que a aposta numa ilha não é a melhor, porque obriga quase sempre a dois voos, o que é complicado para os velejadores FW, porque viajam com muito equipamento. “A maior parte da malta é amadora e vai lá um ano, para competir e conhecer o sítio. Mas não vai lá duas vezes”, acrescenta Vasco Chaveca.
Além da repetição do local e de ser numa ilha, um outro fator pode contribuir para o pouco interesse dos praticantes em estar neste mundial. “O campo de regatas na Baía da Praia da Vitória é super complicado e técnico. É muito físico e é difícil navegar lá porque está sujeito a muitas variações de vento”, explica Vasco Chaveca.
A pergunta impõe-se. Sabendo isso tudo, porque foi decidido realizar o Mundial três anos consecutivos na Ilha Terceira? “Dinheiro”, responde Vasco Chaveca. O Mundial nos Açores estreou os ‘prize moneys’ nas provas internacionais de Formula com o envolvimento do Governo Regional. A prova açoriana tem uma premiação total de 50 mil euros, atribuindo 9 mil euros ao vencedor. “Nem as provas do circuito profissional PWA dão tanto dinheiro ao vencedor”, esclarece o presidente da APFW.
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Baía da Praia da Vitória tem vento instável, o que dificulta a navegação à vela (®EricBellande/2016fwwc)
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O ‘prize money’ não foi suficiente para chamar mais atletas de topo mundial. E mesmo a “excelente” organização local da prova – “os açorianos recebem extremamente bem as pessoas”, destaca Vasco Chaveca – não foram suficientes para ter uma frota maior. “É necessário que a associação internacional tire ilações”, diz o presidente do APFW. Na verdade, alguma coisa parece ter já mudado: os promotores de mundiais já não precisam de ter 35 mil euros de premiação, bastam 10 mil e o cumprimento dos habituais requisitos de organização.
Do ponto de vista desportivo, os algarvios estão a realizar uma excelente prova. O Mundial está parado há dois dois, contando para a classificação as sete regatas realizadas nos dois primeiros dias. Miguel Martinho segue em 4º na geral, a um ponto do terceiro e do segundo. Margarida Gil Morais está em 20º lugar, a terceira melhor posição entre os portugueses em prova. É a única mulher no mundial.
A frota é liderada pelo francês Alexandre Cousin. “É um bocado surpresa”, comenta Vasco Chaveca. “O Cousin tem tido uma excelente prestação na PWA. Está com um ritmo competitivo brutal e tem material de topo. Mas não se esperava 1º lugar nos Açores”, diz o presidente da APFW. É uma surpresa macia, já que existe uma razão forte para a liderança do francês e que se adapta também à excelente prestação do algarvio Miguel Martinho. Ambos são atletas leves, o que serve melhor as transições rápidas necessárias no campo de regatas na Praia da Vitória e funciona muito bem em vento fraco a moderado, tal como esteve nos dois primeiros dias do mundial.
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