Surf Pode Acabar em São Torpes

Pico do Molhe da Praia de São Torpes durante um encontro de Longboard no dia 20 de Dezembro de 2014 (fotos:PauloMarcelino)
 
As excelentes e raras condições para a prática de surf no extenso areal de 1800 metros da Praia de São Torpes estão comprometidas pela expansão do Terminal de Contentores (TXXI) do Porto de Sines. O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) sobre as 3ª e 4ª fases da expansão daquele porto está em consulta pública até esta semana. A organização não-governamental SOS – Salvem o Surf já pediu à Agência Portuguesa do Ambiente que reprove o estudo. “Podemos perder a praia toda”, disse Flávio Jorge, em declarações ao Swell-Algarve. Flávio é fundador de uma das quatro escolas de surf naquela praia e está a organizar um “protesto simbólico” marcado para o próximo dia 14 de Fevereiro.
 
Foi Flávio Jorge quem envolveu a SOS – Salvem o Surf na campanha em defesa da Praia de São Torpes. A organização não-governamental equipara São Torpes a Cantinho da Baía (Peniche), Carcavelos (Estoril) e Amado (Aljezur) como praias orientadas a Sudoeste de qualidade excepcional para a implementação de escolas e turismo de surf. Segundo a SOS – Salvem o Surf, a  praia alentejana de São Torpes pode “albergar 50 escolas de surf, ou seja contribuir com 50 milhões de euros por ano e 500 postos de trabalho para a sócio-economia regional”
 
“Não queremos travar o crescimento portuário. Sabemos da importância do Porto de Sines, mas sabemos também da importância da Praia de São Torpes. Eles têm de nos mostrar alternativas. Será que não há alternativas de investimento no porto mantendo a praia? Achamos que há”, diz Flávio Jorge. Além desta crítica, o potencial do surf para a economia local referido pela SOS – Salvem o Surf contrasta fortemente com a opinião do empresário  sobre o que a economia local ganha por ter ali o Porto de Sines, que é um interesse estratégico nacional. 
 
“O desenvolvimento do porto, além de 50 postos de trabalho traz muito pouco a Sines, a não ser algumas pessoas que vão ganhar alguma coisa momentânea com a construção. Por 50 postos de trabalho não vale a pena estragar a Praia de São Torpes”, diz Flávio Jorge. Segundo o empresário, a importância do porto prende-se com o ‘trans-shipping’, porque é ali que os barcos grandes descarregam contentores que são colocados em barcos mais pequenos para o trajecto até ao destino final. Mas, segundo Flávio, as empresas que gerem este negócio não estão em Sines.
 
Molhe Leste do Terminal 21 é aquele que se vê ao fundo. Vai avançar 1km mar adentro
 
As 3ª e 4ª fases de expansão vão aumentar o Terminal de Contentores (Terminal 21) em cerca de 1 quilómetro, contando as duas fases, com prolongamento do Molhe Leste e consequente alteração de toda a dinâmica de ondulação e movimento de fundos na área contígua a sul, a Praia de São Torpes. “Dentro do Estudo de Impacte Ambiental, o estudo não-técnico admite que a expansão terá impacto muito significativo na ondulação, com redução de 30 a 40 por cento até meio da praia e que haverá medidas compensatórias para as escolas de surf. Mas não quantifica”, disse Flávio Jorge, ao Swell-Algarve.
 
Se a parte não-técnica é “muito vaga”, a parte técnica do Estudo de Impacte Ambiental “é difícil de perceber, por ser técnica de mais”, diz o empresário de surf. “O grande problema é que as pessoas não sabem o que vai acontecer à praia. Pode ser muito grave. Podemos até perder a praia toda”, alerta Flávio Jorge.
 
Quando o Molhe Leste do Porto de Sines foi lançado, em 2004, acabou o ‘spot’ tubular ‘Kirra’ e diminuiu a altura da ondulação no ‘Pico do Molhe’, no extremo Noroeste da praia. Após a conclusão da 2ª fase de expansão (prolongamento do Molhe Leste em 400 metros), em 2011, a praia perdeu areia em mais de metade da sua extensão e o famoso ‘Pico Louco’ nunca mais foi o mesmo. 
 
Há uma década que os surfistas assistem ao definhar de uma praia com condições – acessos, ondulação de Sudoeste e temperatura de água – excepcionais para a prática e economia do surf, com enorme potencial turístico. As novas fases de expansão do Terminal 21 podem acabar em definitivo com o surf em São Torpes. As obras não têm data, mas Flávio teme que avancem mesmo e depressa porque há fundos comunitários para aquele tipo de projectos (infra-estruturas marítimas).
 
Flávio Jorge e a SOS – Salvem o Surf já pediram à Agência Portuguesa do Ambiente que chumbe o Estudo de Impacte Ambiental. Esta semana deverá ser lançada uma petição na Internet e, para 14 de Fevereiro, está marcado um “protesto simbólico” na praia, para que a opinião pública perceba qual o impacto da expansão do porto numa área que até está integrada num parque natural.
 
 

 

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