Decisão altera prova e 'ranking' do campeonato de vela ligeira

Recurso Dá Vitória Regional a Beatriz Gago

Beatriz Gago ganha recurso contra penalização por anti-desportivismo no Campeonato do Algarve de Vela Ligeira (®PauloMarcelino/arquivo)

O Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Vela aceitou o recurso da velejadora Beatriz Gago (Clube Naval de Portimão) contra a desclassificação por anti-desportivismo que lhe foi imposta em consequência de protesto pela Comissão de Regatas na 2ª Prova do Campeonato do Algarve de Vela Ligeira 2016/2017. A penalização foi alterada e essa decisão deu à atleta a vitória na prova e a liderança no ‘ranking’ do campeonato.

É uma situação rara e a única decisão de apelação do Conselho de Arbitragem da FPV este ano. Beatriz Gago, Tricampeã de Portugal Juvenis Feminino venceu todas as regatas (6) na 2ª Prova do Campeonato do Algarve, em Vilamoura, em fevereiro. Quando chegou a terra após terminadas as regatas foi confrontada com um protesto apresentado pela Comissão de Regatas, que resultou numa desclassificação não descartável por infração dos princípios de lealdade e desportivismo.

A atleta foi penalizada por estar a receber assistência do treinador quando já tinham sido iniciados os procedimentos de largada para a penúltima regata da prova. Tudo se resume a um minuto. O treinador tinha o barco de apoio encostado ao Optimist de Beatriz Gago e estava a reparar a escota. Afastou-se três minutos antes da largada, um minuto depois de ter sido erguida a bandeira de preparação, momento a partir do qual se considera que os barcos já estão em regata. Beatriz Gago largou, realizou todo o percurso e foi a primeira a atravessar a linha de chegada nessa regata.

Decisão do Protesto na Prova

A Comissão de Protestos na prova analisou o protesto apresentado já em terra pelo presidente da Comissão de Regatas, António Castro Nunes. Foram ouvidos o protestante e a protestada e a Comissão de Protestos decidiu, na altura, que a atleta violou duas regras das Regras de Regata à Vela: a Regra 41, que impede os atletas de receber “auxílio exterior” durante as regatas; e a Regra 2, que obriga os “barcos e proprietários a competir cumprindo os princípios reconhecidos do desportivismo e lealdade”.

A violação da Regra 41 implicaria uma desclassificação simples (DSQ), que a atleta teria descartado sem prejuízo para o seu primeiro lugar na classificação final, uma vez que tinha ganho todas as outras cinco regatas.

A Comissão de Protestos na prova entendeu castigar a velejadora com uma desclassificação não-descartável (DNE), prevista como penalização por infração da Regra 2. A DNE implicou um acumulado de 47 pontos (tantos quantos os competidores em prova) que a atleta não pôde descartar. Beatriz Gago caiu do 1º para o 12º lugar na classificação final.

Em março, os pais de Beatriz Gago apresentaram recurso ao Conselho de Arbitragem da FPV contra a penalização imposta à atleta em Vilamoura. A Comissão de Recursos do Conselho de Arbitragem pediu esclarecimentos à Comissão de Regatas e à Comissão de Protestos da prova em questão. A Comissão de Regatas não se pronunciou. A Comissão de Protestos respondeu e defendeu a decisão tomada no final da prova em Vilamoura.

A Comissão de Protestos da prova argumenta que a velejadora deveria ter-se retirado da regata por iniciativa própria, uma vez que depois – em sede de audiência de protesto após terminadas as regatas – reconheceu ter visto a bandeira de preparação “exposta quando largou o barco do treinador”. Porque a atleta não se retirou, a comissão entende que a atleta infringiu “os Princípios Básicos do Desportivismo e as Regras” e, como tal, deve ser penalizada com DNE.

Decisão do Recurso

A Comissão de Recursos do Conselho de Arbitragem concluiu de forma diferente. “Não fica provada qualquer infração à RRV 2 (regra de navegação leal), nomeadamente não fica provado que o protestado (a atleta) tenha infringido os princípios de lealdade e desportivismo”, conclui a comissão, na decisão final, a que o Swell-Algarve teve acesso. A Comissão de Recursos foi mais longe, “relembrando” que “para a utilização da Regra 2 tem de ser claramente provado que esses princípios foram infringidos, o que considera não suceder neste caso”.

A Comissão de Recursos conclui também não ter ficado provado “que o barco tenha ganho uma vantagem significativa na regata pelo auxílio recebido ao infringir a RRV 41” (regra que impede auxílio exterior em regata). A Comissão de Recursos decidiu alterar a decisão da Comissão de Protestos da prova, considerando que a atleta violou a RRV 41 mas não a RRV 2 na regata em questão. “Assim sendo, atribui-se DSQ ao barco 2434 na regata 5”, conclui a comissão do Conselho de Arbitragem.

Efeitos na Prova e no Ranking

A decisão tem efeitos na classificação da prova e no ‘ranking’ regional. A vitória na prova foi agora atribuída a Beatriz Gago. O vencedor declarado em Vilamoura (ver notícia), Guilherme Cavaco (Ginásio Clube Naval de Faro) desceu ao 2º lugar e Beatriz Cintra (CNPortimão) a 3º. Miguel Sancho (GCNFaro) desceu a 4º e saiu do pódio.

A decisão do Conselho de Arbitragem foi conhecida há dois dias e alterou o ‘ranking’ do campeonato. A Associação Regional de Vela do Sul já refez o ‘ranking’ do campeonato após 2 provas. Beatriz Gago é a nova líder do ‘ranking’, seguida por Guilherme Cavaco e por Beatriz Cintra.

Estas alterações foram comunicadas aos clubes já em contagem decrescente para a 3ª Prova do Campeonato do Algarve de Vela Ligeira 2016/2017, que se realiza este fim-de-semana, 6 e 7 de maio, em Tavira.

Clube Naval de Portimão congratula-se

O Clube Naval de Portimão está satisfeito com a decisão do Conselho de Arbitragem. “O CNP congratula-se pela reposição da verdade desportiva e pela reparação de uma injustiça tremenda. Recordamos que a acusação da Comissão de Protestos enquadrava o erro da atleta como uma falta configurável como conduta anti desportiva, acusação despropositada e que resultaria numa penalização que comprometeria a sua vitória no Ranking regional”, comentou Pedro Estorninho, secretário-geral do clube, ao Swell-Algarve.

“Só quem não conhece a Beatriz poderá sequer equacionar a hipótese desta incorrer em qualquer comportamento desta índole. A Beatriz é uma menina cheia de alegria, leal para com os seus adversários que mesmo antes de o serem, são essencialmente amigos e companheiros de desporto”, conclui o dirigente do Clube Naval de Portimão.

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